Ouvidoria da Polícia de SP vê erro e diz que Rota não matou 'Ferrugem' do PCC, mas um advogado com o mesmo apelido
A Ouvidoria da Polícia de São Paulo pediu esclarecimentos às corregedorias das polícias Militar e Civil sobre a ação que terminou com a morte do advogado Carlos Alves Vieira, durante uma abordagem na região de Itaquaquecetuba (SP) na última sexta-feira (28). Vieira havia sido inicialmente identificado como “Ferrugem”, apontado como um dos líderes do PCC, com 18 passagens pela polícia e suspeita de atuação no tráfico internacional de drogas. A informação é contestada pela Ouvidoria.
Segundo o órgão, testemunhas refutam a versão da Rota, responsável pelos disparos que atingiram Vieira nove vezes após uma suposta troca de tiros. O advogado, dono de uma empresa de cartonagem no endereço onde ocorreu a abordagem, compartilhava o apelido “Ferrugem” com o procurado, mas, segundo a Ouvidoria, não tinha relação com o integrante da facção.
“Casado, pai de dez filhos e dois netos, de família tradicional em Poá e reconhecido por sua atuação em programas sociais, ele era conhecido desde a infância pelo apelido de ‘Ferrugem’, semelhante ao do procurado”, afirmou a Ouvidoria.
Vieira havia recebido há menos de um mês a carteira da OAB, segundo a subseção de Arujá, que lamentou o ocorrido. O documento só é emitido mediante apresentação de certidões criminais negativas.
A Ouvidoria solicitou as imagens das câmeras corporais dos policiais da Rota e, à Polícia Civil, gravações de câmeras do entorno, no Jardim Silvestre, em Itaquaquecetuba. Em nota, o órgão afirmou ser “imperiosa a célere e acurada investigação”, para que outras famílias não sejam atingidas por ações “injustificadas e suspeitas”.
Já a Secretaria da Segurança Pública (SSP) reafirmou que Carlos tinha envolvimento com o crime organizado — ainda que não como liderança. E, apesar de não ter a ficha criminal do Ferrugem procurado, Vieira possuía antecedente por furto qualificado. Segundo a pasta, investigações do Denarc, em 2022, apontaram "indícios" de participação do advogado em atividades ligadas ao tráfico no Alto Tietê.
A pasta afirma ainda que, no dia da abordagem, o advogado transportava tijolos de maconha e duas pistolas (9 mm e .380). As armas apreendidas e o armamento da equipe da Rota foram encaminhados para perícia. O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial no 1º DP de Itaquaquecetuba e enviado ao Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes.
Paralelamente, a Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias da ação, incluindo a análise das câmeras corporais, que também serão compartilhadas com a Polícia Civil. A OAB-SP acompanha o caso e afirma que os fatos precisam ser esclarecidos.
Em nota publicada nas redes sociais, a Rota nega ter confundido os alvos. "O criminoso neutralizado, Carlos Alves Vieira, foi identificado por um trabalho sério de inteligência e planejamento. No carro dele foram encontradas muitas drogas e duas armas de fogo, mostrando o perigo que representava", escreveu.
Ainda de acordo com a publicação, o líder do PCC conhecido como Ferrugem, Adilson Daghia, assim como outros 400 criminosos que têm o mesmo apelido "são criteriosamente acompanhados pela nossa inteligência".