Desigualdade volta a cair no Brasil e chega ao menor nível da série, mas país segue entre os mais desiguais do mundo
Após se manter estável em 2023, a desigualdade de renda voltou a recuar em 2024 e alcançou o menor nível da série histórica. Ainda assim, o Brasil segue entre os países mais desiguais do mundo, segundo a nova edição da Síntese de Indicadores Sociais divulgada pelo IBGE nesta quarta-feira.
O índice de Gini, que mede a concentração de renda e varia de zero (perfeita igualdade) a 1 (máxima desigualdade), registrou queda relevante em 2024. Após a estabilidade em 2023, quando permaneceu em 0,517, o indicador desceu para 0,504, novo piso da série.
De acordo com o IBGE, o resultado reflete tanto o impacto de programas sociais quanto a melhora do mercado de trabalho, que ampliou a renda sobretudo entre as faixas mais baixas.
A evolução histórica mostra avanços e retrocessos ao longo da última década. Em 2012, o Gini era de 0,540 e caiu até 2015, quando chegou a 0,524. Entre 2016 e 2018, voltou a subir e ficou estável em 2019.
Já em 2020, o índice recuou com o pagamento de benefícios emergenciais durante a pandemia de Covid-19, até voltar a subir em 2021, influenciado pela redução desses auxílios e pelo enfraquecimento do mercado de trabalho. Já em 2022, com a recuperação dos empregos, uma nova queda levou o índice a 0,517, movimento reforçado no último ano.
O levantamento também mostra o peso das políticas sociais na redução da desigualdade: sem os benefícios, o Gini de 2024 seria 7,5% maior, passando de 0,504 para 0,542.
Em outra maneira de medir a desigualdade, a renda dos 10% mais ricos do país foi 3,3 vezes maior que a dos 40% mais pobres em 2024, com uma redução em relação ao ano anterior, quando essa razão era de 3,6 vezes.
A queda ocorre devido ao aumento de 4,3% da renda apropriada pelos 40% com menores rendimentos e à queda de 3,2% entre os 10% mais ricos.
Mais pobres veem renda saltar 13% em 2024; topo da pirâmide tem alta de só 1,6%
Os dados mostram ainda que, entre 2023 e 2024, quem mais ganhou renda foram justamente os grupos mais pobres. Os 10% com menores rendimentos tiveram aumento de 13,2%, chegando a R$ 248 ao mês, enquanto o segundo décimo teve alta de 10,2%, passando a R$ 518.
No topo da distribuição, os 10% mais ricos registraram avanço mais modesto, de 1,6%, atingindo média de R$ 7.983. Ainda assim, esse grupo recebeu 32,2 vezes mais que os mais pobres — diferença que já foi de 44,6 vezes em 2012, o que mostra redução, embora a desigualdade permaneça elevada.
Em comparação internacional feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil continua entre os países com maior desigualdade de renda. Em 2022, a renda dos 20% mais ricos era cerca de 11 vezes superior à dos 20% mais pobres, a segunda maior disparidade entre os 40 países analisados pela organização, ficando atrás apenas da Costa Rica (12,3 vezes) e acima de nações como Chile, México, Portugal, Espanha, Itália, França e Suécia.
A síntese do IBGE mostra que a queda recente na desigualdade está ligada principalmente ao crescimento de 3,7% na renda do trabalho em 2024, com impacto maior sobre os segmentos mais pobres. Isso se soma ao efeito dos programas sociais, que reforçaram o rendimento das famílias mais vulneráveis e ajudaram a reduzir pobreza e extrema pobreza.