O malandro carioca era, até pouco tempo, um cara analógico, que vivia da conversa fiada, do caô, um artista do 171. Muito gente boa, mas sempre tentando te dar uma volta. O problema é que o pilantra contratou coach, fez mentoria, se atualizou. Virou empreendedor online, agora quer vender cripto pelo direct, pirâmide no zap, essas coisas. A malandragem virou digital. A culpa não é minha: dou importância demais à opinião dos outros De Tremembé para o Clube da Esquina: ando tentando esquecer a barbárie em que estamos mergulhados Recebi o anúncio por uma rede social. Uma operadora de internet oferecendo uma conexão muito mais rápida que a minha, por bem menos do que eu pago. Opa! Malandro não sou, mas ao menos tento não ser mané. Vou aproveitar a oferta, pensei. Nem terminei de ler o anúncio: peraí, essa é a minha própria operadora! É assim que a banda toca por aqui: só querem saber dos novos clientes, os antigos que se danem. Nenhuma novidade, tem gente que leva a vida dessa maneira, dando trela para estranhos e desprezando quem está do lado. Faz parte. Mas esfregar na cara do cliente cativo que ele é trouxa é um pouco demais. Liguei indignado. A resposta foi singela: a promoção é só para novos assinantes. Se a atendente tivesse mandado um “sai pra lá, otário”, teria sido mais sincero. O jeito seria cancelar a assinatura e entrar de novo, com os valores para novatos. Uma solução que juntaria um pragmatismo radical com a burocracia mais torpe. Aqui no Rio a gente se acostuma com absurdos, mas tem hora que não dá. Resolvi partir para outra. Entrei em contato com uma segunda operadora. Marcaram por Whatsapp a instalação em dois dias. Perfeito! Nem todos são do mal, né? No dia seguinte, chega uma mensagem da nova operadora, também pelo zap, informando que a instalação, marcada para o dia seguinte, não seria possível, devido a um problema nos cabos no meu prédio. Na mensagem constava o meu nome completo, o CPF e o número do contrato. Fazer o quê? Voltar — humilhado — para a primeira? Não passam nem quinze minutos e aparece mais um zap, de uma terceira operadora. Neste momento, o leitor já se deu conta do faroeste em que estava metido, né? Pois a tal terceira me avisa que havia recebido uma “indicação” de que eu precisava de internet. Oferecia vários planos mirabolantes e avisou que poderia marcar a instalação para o dia seguinte. Até acreditei no problema dos cabos, afinal, moro em um prédio antigo, mas o bicho pegou foi num erro de concordância. Mandaram um “As operadora” (sic) no meio da mensagem. Malandro não costuma ser afeito a bancos escolares, muito menos às regras. Aí tem, pensei. Não deu outra: a história dos cabos era tudo mentira. Sim, leitor, tem mais um golpe na praça. Escapei por pouco da falcatrua, mas das operadoras, vou te contar... uma é adepta do escárnio como modelo de negócios. A outra é incapaz de manter os dados dos clientes em segurança— os meus devem estar rodando por aí feito pipa voada. Da terceira, melhor nem falar: se a rasteira é seu método para conseguir novos clientes, imaginem como trata os antigos. Malandragem com CNPJ. Até pouco tempo, o objetivo dos “ixpértos” era levar um turista da rodoviária até Copacabana via Niterói ou então vender o Pão de Açúcar à vista. Essa época ficou para trás. Agora são modernos, ciscando online atrás de novas vítimas. Estão se achando. Só esquecem o que todo carioca sabe de berço: malandro demais se atrapalha.

Longa que representará o Brasil no Oscar chegou ao circuito nesta quinta (6)