No entanto, o que observamos e sentimos na pele — nós, profissionais da educação — é que, na maioria dos estados do Brasil, prevalece uma abordagem que desvaloriza a docência e busca controlar a prática pedagógica, alinhando-a a interesses políticos e mercadológicos.

Claro, nem todos os governos adotam a visão citada acima, e alguns até procuram colocar diferentes perspectivas em jogo na educação.

Além disso, essas pessoas ficam à mercê dos discursos conservadores que querem controlar a educação e fazê-la parecer “eficiente”, por meio de índices e resultados de avaliações externas.

Nossa educação básica ainda é muito retrógrada, autoritária, tradicional e punitiva. Isso leva a percepção pública da educação básica e dos professores “ao buraco” ao longo dos últimos anos, os estudantes e até os pais não se sentem pertencentes à escola e não a defendem.

Sob o viés de determinados governos, o Estado desvaloriza a profissão docente (enquanto tenta parecer que está valorizando) e tenta sufocar críticas ao sistema educacional.

O Estado costuma usar a educação como uma ferramenta para moldar cidadãos conforme determinados interesses políticos ou ideológico (muito ligados aos interesses exclusivos do mercado).

Tais transformações devem mudar a educação para uma que olhe para os estudantes como humanos que vão muito além do mercado de trabalho, os reconhecendo como humanos que lutam arduamente contra a desigualdade social e com o interesse dos detentores de poder econômico.

Desse modo, mesmo pequenas ações individuais, que fogem do controle e da vigilância governamental, podem abrir brechas nesse sistema e impulsionar transformações significativas, mesmo que de longo prazo.

E ainda se perguntam porque ninguém quer ser professor ou qual o motivo de tanto docente pedir exoneração da educação básica.

Ninguém suporta tanta cobrança, controle e vigia. Quem tenta suportar, colhe as consequências do adoecimento docente.

It's not America, it's the United States OF America.

Poucas pessoas recém formadas, vindas de um bom curso desejam entrar em um ambiente assim. Ou pior, sequer querem entrar em uma licenciatura.

Afinal, quem quer trabalhar em um cargo que deveria ser de autonomia intelectual, mas que, na verdade, te torna um mero tarefeiro microgerenciado?

Qualquer professor que deseje autonomia, flexibilidade, contextualização com a realidade local, criticidade ou tranquilidade, não suporta, ou, na pior das hipóteses, aceita tudo por estar sobrecarregado, precarizado e cansado.

Tudo para focarmos em avaliações externas, a todo custo.

Não acredite do que os governadores e secretários de educação dizem sobre a valorização e salário dos professores.

ACREDITE NOS ESTUDANTES e obviamente, nos próprios professores. Essas pessoas são melhor termômetro para a qualidade do trabalho docente.

O buraco é muito mais embaixo.

Adolescentes relatam que não querem se tornar docentes por ver seus professores entrarem cansados em sala de aula. Afirmam que professores recebem pouco e trabalham muito, que precisam de muita paciência para o caos das salas super lotadas e escolas ainda precárias.