Hoje em dia, não é raro que, ao expressar um desejo — seja uma promoção no trabalho, uma viagem ou qualquer outra conquista —, alguém diga: “isso vai acontecer”. Essa ideia vem do universo do autoconhecimento e da autoajuda, e propõe afirmar, com convicção, que aquilo que você quer vai acontecer. Trata-se de uma prática para alinhar desejos, metas e atitudes. Nesse contexto, surgiram várias técnicas de manifestação. Uma das mais conhecidas é o "vision board" — um quadro de visualização onde se colam imagens representando aquilo que se deseja alcançar. Mas agora, com os avanços da inteligência artificial, essa prática foi levada a outro patamar: a criação de vídeos personalizados que encenam esses desejos. É o caso de Sharon Melzer, uma jovem de 24 anos que sonha em ser criadora de conteúdo voltado para tecnologia e marketing. Segundo o The New York Times, Sharon sentia que os tradicionais vision boards não eram específicos o suficiente. Com as novas ferramentas de IA generativa, ela conseguiu criar um avatar digital de si mesma, altamente realista, vivendo exatamente as situações que quer atrair para sua vida. É como se ela estivesse fazendo o trailer do filme da vida que deseja viver. Nos vídeos, Sharon se imagina viajando de jato particular, palestrando em conferências no estilo TED Talks, recebendo uma notificação de que chegou aos 100 mil inscritos no YouTube, completando uma maratona, trabalhando em um estúdio de criação de conteúdo e saindo da Universidade de Nova York — onde vai iniciar um mestrado em Relações Públicas e Comunicação Corporativa. Ela criou esse conteúdo usando uma plataforma chamada Freepik, que permitiu gerar seu avatar e inseri-lo em diferentes cenários. Sharon desenvolveu um ritual diário com esses vídeos: assiste a eles assim que acorda e também antes de dormir. Para ela, esse hábito passou a ser um substituto mais saudável do consumo excessivo de redes sociais, onde, segundo conta, o foco costuma ser “nos outros” e não em si mesma. Embora ainda seja necessário ter algum conhecimento básico — como saber fazer prompts bem formulados —, as ferramentas estão se tornando cada vez mais acessíveis. Plataformas como Veo, do Google, e Sora, da OpenAI, estão entre as mais populares atualmente. Outras opções incluem Runway, Kling AI, Synthesia e HeyGen, que também possibilitam a criação de vídeos personalizados como forma de manifestar. Além disso, há quem use a IA de outras formas para manifestar. O blog The Everygirl, por exemplo, compartilha uma técnica com ChatGPT: a pessoa conta ao robô o que deseja manifestar, pede que ele escreva uma história fictícia onde aquilo acontece e, depois, solicita que a IA sugira passos concretos para tornar o sonho realidade. O próprio blog, no entanto, faz um alerta: “O ChatGPT não vai manifestar nada por você. Isso é você quem faz.” Mas... será que funciona mesmo? Não há uma resposta definitiva. Ainda assim, Jennice Vilhauer, Ph.D., psicóloga citada pela Psychology Today, explica que estudos nas áreas da terapia cognitivo-comportamental e da terapia focada no futuro apontam que nossos pensamentos têm enorme influência sobre nossas emoções e comportamentos. “Essa é a base da manifestação. Se você acredita que algo bom vai acontecer, você age de forma a aumentar a chance de aquilo realmente acontecer”, afirma Vilhauer. Para a psicanalista Rosalía Álvarez, ex-coordenadora do Departamento de Família e Casal da APA (Associação Psicanalítica Argentina), manifestar um desejo pode, sim, ter efeitos positivos: “Manifestar uma vontade ou uma necessidade ajuda a estabelecer um objetivo claro. Isso, por si só, já é algo benéfico, pois influencia diretamente na forma como seguimos em direção à realização.” “Vejo isso como uma tomada de consciência que ajuda a ação”, conclui.