Mureta da Freguesia: saiba como surgiu um novo point em Jacarepaguá
Um muro baixo, de cerca de 60cm de altura, entre as ruas Araguaia e Joaquim Pinheiro, estava ali simplesmente para separar a calçada da área de estacionamento de uma farmácia, tendo ainda um pequeno canteiro com poucas plantas. Mas, de poucos meses para cá, foi batizado de Mureta da Freguesia. O nome pegou, e o local, em frente à Praça Mac Gregor, virou ponto de encontro para moradores da região que consomem comidas e bebidas de cerca de dez barraquinhas de comerciantes que estão sempre por ali. Tapiocas, caldos, churrasquinho, chope, espigas de milho, pastéis, empadas, açaí, doces e cachorros-quentes são degustados por pessoas que se sentam no muro ou ficam de pé, conversando, em um happy hour próximo de casa.
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— Virou uma área de convivência e gastronômica para moradores que não querem pegar o carro para ir à Barra ou ao Recreio, por exemplo. Agora, estão vindo alguns visitantes de fora, mas em sua maioria são convidados pelos próprios moradores — diz o gerente comercial Thiago Avelino, sócio da loja Dona Lu Empadas, que tem um carrinho no espaço. — Me mandam mensagens para perguntar se hoje vai ter mureta.
Há pouco mais de dois meses, ele e mais sete comerciantes criaram o perfil @muretadafreguesia no Instagram. Por lá, organizam as informações para os clientes, como os dias e horários em que cada comerciante chega e sai do local, sempre entre segunda e sexta-feira: apenas o açaí e o quiosque, com estruturas fixas, funcionam no fim de semana. O grupo divide o pagamento de um profissional para organizar as publicações na rede, onde Avelino também aparece em vídeos, convidando moradores dos arredores a conhecerem o local.
— Muita gente disse que passava por aqui e achava que tinha um evento acontecendo — conta ele.
Vanusa Costa viu número de clientes crescer com a divulgação nas redes
Guito Moreto
O reflexo do investimento foi imediato. O perfil já conta com quase nove mil seguidores, conquistados organicamente, sem pagamentos de anúncios nas plataformas, diz Avelino. Nas contas do fim do mês, os números subiram. Os dele e de outros vendedores.
— Tive um aumento de 70% no lucro. Muita gente que não me conhecia passou a ser cliente; aí aumenta o boca a boca. Tem pessoas que passam de carro e mandam beijo — conta Vanusa Costa, que vende tortas, bolos e brownies no carrinho Reino das Delícias, logo após uma cliente passar e chamá-la da janela do carro.
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Vanusa costumava vender seus doces apenas em frente a um dos colégios da redondeza, mas, há um ano, chega na Mureta no início da tarde. O mesmo aconteceu com outros vendedores da região, como Raiza Ferreira, que mantém o carrinho Menina dos Caldos há cinco anos, mas migrou da Rua Geminiano Góis para o novo ponto e agora vende uma média de 70 caldos por dia.
Moradores da Freguesia se reúnem em esquina que teve aumento expressivo no movimento
Guito Moreto
Reunião com a subprefeitura
Comerciantes e frequentadores destacam o caráter familiar do local. À noite, veem-se moradores passeando com cachorros, pessoas que vieram do trabalho ainda com crachá pendurado no pescoço e famílias. O comissário de bordo Fernando Bastos e a estudante Scarlett Oliveira buscam o filho Dylan, de 7 anos, na escola e vão para lá, onde o pequeno pode comer milho e espetinho de coração de galinha — seus pedidos preferidos —, encontrar colegas de turma e ainda curtir os brinquedos da Praça Mac Gregor.
— Moramos aqui há dois anos. Mas comecei a reparar neste movimento há pouco. Sou de Niterói, morava em Icaraí. Fiquei muito surpreso com esta região e de ver como é tranquilo — conta Bastos, que costuma convidar o irmão, que mora próximo à Estrada do Gabinal, para ir até a Mureta com o filho.
Raiza Ferreira vende caldos na Mureta da Freguesia
Guito Moreto
O movimento chamou a atenção da Subprefeitura de Jacarepaguá, que planeja a regularização do espaço e de todos os vendedores.
— A Mureta da Freguesia se transformou neste lugar tão frequentado. Quando chegamos, vimos que tem calor humano e o apoio da Freguesia. Já temos uma reunião marcada com eles para entender qual é o melhor projeto— diz o subprefeito Igor Augusto Lima de Souza.
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Foi por orientação da subprefeitura que os comerciantes deixaram de colocar mesas e cadeiras nas calçadas. Embora a aprovação seja alta, há também quem reclame. No Instagram da Mureta, um vizinho comentou que se sente incomodado em passar diariamente pelo local e que “inventaram um caos”. Para evitar problemas e garantir sua permanência por lá, os comerciantes estabeleceram regras que precisam ser respeitadas por todos, como o recolhimento do lixo, a proibição de colocar som e a necessidade de deixar as passagens desbloqueadas, especialmente as rampas de acessibilidade da calçada.
— Uma vez chegou um homem aqui e abriu o carro com som. Fui falar com ele para pedir que não colocasse, expliquei que precisamos ter uma boa convivência com os vizinhos e que o movimento também melhora a segurança. Ele reconheceu e ainda me contou que foi assaltado e baleado nesta rua há uns anos — recorda Avelino.
Rodrigo Xavier (à esquerda) e Thiago Avelino vendem empadas e chope, respectivamente, na Mureta da Freguesia
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Para evitar que pessoas urinem na rua, o comerciante Rodrigo Xavier, que tem um carrinho de chope, decidiu alugar um banheiro químico. Apesar de ser mais usado por seus clientes, ele diz que o equipamento serve a todos:
— Tem pouco mais de um ano que vendo aqui. Mas há cerca de oito meses percebi que seria melhor colocar o banheiro, que fica trancado de noite e que mantenho sempre limpo.
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Morador de um dos prédios em frente à Mureta, o empresário Leonardo Bindes vive há 15 anos na Freguesia. Ele elogia o empenho no ordenamento e teme que o local volte a ser como antes:
— Não queremos perder isso de jeito nenhum, então, todos preservam. Aqui vejo muitas famílias que não querem jantar fora, mas também não querem preparar algo em casa. Sou um dos primeiros frequentadores. Venho quando volto do trabalho, pelo menos duas vezes na semana. Quando não quero beber, vou para casa lá pelo outro lado da praça (risos).
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