Fernanda Torres e Walter Salles no Oscar, Brasil premiado em Cannes e Berlim, crianças garantem a bilheteria: como foi 2025 no cinema
De janeiro a dezembro, 2025 foi um ano e tanto para o cinema. Especialmente para o Brasil. Os desafios do segmento no país ainda são enormes: um circuito insuficiente para dar vazão ao grande número de lançamentos, lacunas em termos de regulamentação e um espectador que aprendeu a consumir conteúdos audiovisuais fora das salas de cinema. Mas o cinema nacional foi alavancado por fenômenos como “Ainda estou aqui” e “O agente secreto”, além de outros destaques como “Chico Bento e a goiabeira maravióasa”, “Homem com H”, “O último azul” e “Manas”.
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Erguendo a estatueta
Walter Salles com o Oscar ganho por 'Ainda estou aqui'
Frederic J. Brown / AFP/ 02/03/2025
Do ponto de vista do brasileiro, o mundo nunca mais foi o mesmo desde que Penelope Cruz anunciou “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, como o vencedor do Oscar de melhor filme internacional, em março. Pela primeira vez a estatueta mais famosa do cinema veio parar no Brasil. O longa foi um verdadeiro fenômeno também nos cinemas do país, onde levou 5,8 milhões de espectadores às salas.
Walter Salles prefere chamar a atenção para outros filmes nacionais premiados:
— Os prêmios e indicações de “O agente secreto” nesse final de ano se somam ao reconhecimento do filmaço de Kleber Mendonça Filho em Cannes e do grande filme de Gabriel Mascaro em Berlim. Esses prêmios foram amplamente merecidos e tornam esse ano bastante especial para o cinema brasileiro. Se a nossa cinematografia está ecoando fortemente, é em parte devido aos núcleos de desenvolvimento de roteiro, que criaram a possibilidade de complexificar as histórias e personagens, oferecendo reflexos multifacetados da nossa identidade. A falta dessa política publica, hoje, é altamente preocupante. Cinema depende de continuidade. — diz Salles.
Queda de público
O público nos cinemas brasileiros em 2025 registrou queda de aproximadamente 10% em comparação com o ano anterior, quebrando uma sequência de quatro anos de aumento no número de espectadores. Em 2024, 125,5 milhões de ingressos foram vendidos no país, com uma renda de R$ 2,4 bilhões, segundo a Ancine. Já em 2025 os números são 102,2 milhões de ingressos e R$ 2 bilhões de renda.
— Os números foram ótimos até o final de julho, mas o segundo semestre foi muito fraco — diz o analista de mercado Marcelo J.L. Lima, diretor do Portal Exibidor e da Expocine. — A expectativa é que agora, com a chegada de títulos como “Zootopia 2” e “Avatar: fogo & cinzas”, a gente consiga caminhar para um primeiro semestre de 2026 bem melhor.
Apesar da queda nos números totais, o cinema nacional apresentou leve crescimento no market share, que foi de 10% no ano passado e está em 10,7% no momento.
Cinema para baixinhos
Cena do filme “'Lilo & Stitch”, em cartaz nos cinemas brasileiros: sucesso na semana de lançamento nos EUA
Divulgação
O desempenho comercial das salas só não foi pior graças à força do cinema infantojuvenil. Os três maiores sucessos de bilheteria no país no ano são filmes voltados para crianças e adolescentes: “Lilo & Stitch”, que levou 10,4 milhões de brasileiros aos cinemas; “Como treinar o seu dragão”, com público de 5,9 milhões; e “Um filme Minecraft”, com 5,4 milhões de espectadores. O cenário internacional foi parecido. A animação chinesa “Ne Zha 2” foi a recordista de bilheteria no mundo, com US$ 1,9 bilhão de faturamento, enquanto “Lilo & Stitch” foi a única produção de Hollywood a superar a marca do bilhão.
Na seara dos super-heróis, embora “Superman” tenha feito boa bilheteria (US$ 616 milhões) ao reiniciar o universo cinematográfico da DC, as produções da Marvel (“Quarteto Fantástico: primeiros passos”, “Capitão América: admirável mundo novo” e “Thunderbolts”) não brilharam no box office.
Vale a pena ver de novo
"Saneamento Básico, o Filme" vai voltar para os cinemas nacionais pela iniciativa Sessão Vitrine Petrobras
Divulgação
Uma estratégia bem-sucedida para atrair público foi o relançamento em circuito de sucessos do passado. Obras como “Saneamento básico, o filme”, de Jorge Furtado, “Onda nova”, de Ícaro Martins e José Antonio Garcia, “Cidade dos sonhos”, de David Lynch, “Paris, Texas”, de Wim Wenders, “Tubarão”, de Steven Spielberg, “Orgulho e preconceito”, de Joe Wright, e filmes da saga de Harry Potter foram alguns dos vários longas relançados nas salas.
Carisma em pessoa
A atriz Fernanda Torres posa com o troféu de Melhor Atriz no Globo de Ouro 2025: artista é celebrada pelo trabalho no filme 'Ainda estou aqui'
Robyn Beck/AFP
Fernanda Torres foi uma das sensações da temporada de premiações. Vencedora do Globo de Ouro, a atriz encantou o mundo com o jeito descontraído, o carisma e a “preguiça” para escovas no cabelo. O Oscar não veio, mas a atriz fez história nas redes sociais da Academia após foto receber milhões de likes e comentários vindos do Brasil.
Outros prêmios
Kleber Mendonça Filho com prêmios de "O agente secreto" no Festival de Cannes
Bertrand GUAY / AFP
“O agente secreto” deixou o tradicional Festival de Cannes, em maio, com os prêmios de melhor direção, para Kleber Mendonça Filho, e melhor ator, para Wagner Moura .
Em outubro, o longa foi anunciado como representante do país para concorrer a uma indicação ao Oscar 2026 e vem figurando no páreo de premiações internacionais como o Gotham e o Spirit Awards.
Belezas e mazelas da Amazônia
Rodrigo Santoro e Denise Weinberg em "O último azul", de Gabriel Mascaro
Divulgação / Guillermo Garza
Em fevereiro, “O último azul”, de Gabriel Mascaro, recebeu o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim. No longa, Rodrigo Santoro e Denise Weinberg (foto) numa jornada pelo Rio Negro.
O drama “Manas”, de Marianna Brennand, cativou espectadores no mundo, incluindo nomes de Hollywood como Sean Penn e Julia Roberts.
A nobreza do terror
Michael B. Jordan em 'Pecadores' (2025)
Reprodução
Todos os anos, o cinema de terror mostra sua força nas bilheterias, mas em 2025 o gênero conquistou mais espaço na crítica. “Pecadores”, de Ryan Coogler e com Michael B. Jordan (na foto, em dois papéis), apresentou sua visão para as tramas de vampiros e se firmou como concorrente na temporada de premiações.
Outro terror prestigiado do ano foi “A hora do mal”, de Zach Cregger, com Amy Madigan.
Brasil no mapa de lançamentos
Cynthia Erivo e Jonathan Bailey lançam "Wicked: Parte 2" em São Paulo
Divulgação
Várias estrelas do cinema internacional passaram pelo Brasil ao longo de 2025, mostrando que o país fez bonito no calendário de pré-estreias globais. A diva da Broadway Cynthia Erivo visitou São Paulo acompanhada do homem mais sexy do mundo, Jonathan Bailey, para promover “Wicked: parte 2”. A cantora Ariana Grande perdeu o voo e acabou não vindo.
Já o Rio de Janeiro recebeu dois dos grandes nomes do cinema francês: Juliette Binoche, que apresentou sua estreia na direção no Festival do Rio; e Isabelle Huppert, que lançou o longa “A mulher mais rica do mundo” no Festival de Cinema Francês do Brasil. Após passear pela cidade, com direito a ida ao Jardim Botânico e ao Vidigal, Huppert seguiu para Salvador.
David Corenswet, James Gunn e Rachel Brosnahan participam de sessão de fotos de "Superman", em Santa Teresa, no Rio
Júlia Aguiar / Agência O Globo
O Rio também recebeu o diretor James Gunn e os atores David Corenswet e Rachel Brosnahan para o lançamento de “Superman”, enquanto que São Paulo contou com a presença do cultuado cineasta iraniano Jafar Panahi, homenageado na Mostra de Cinema de São Paulo.