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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 1h

Sim, Introdução ao Direito. Mas como isso era aula de primeiro ano, havia a norma de não haver praxe aí.

Reposted by Luís

Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Vá, pronto, como eu sei que vocês devem estar aí a roer-se todos para saber como é a praxe de Direito em Coimbra, eu explico. Segue o fio.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Euzinho, sem barba (à data, não usava) e de cabelo rapado.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Depois de acordados, por volta das 14h ou das 19h, dependendo da biologia de cada um, os caloiros juntam-se todos e vão rapar o cabelo. Os que quiserem, não é obrigatório. Dois ou três dias depois começa a Queima. E voilà.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Esse julgamento é sempre de madrugada. No final, por volta das 7h da manhã, juntam-se os caloiros todos, diz-se que são todos Bastonários, Cobóis, Tritões, etc., o que for. Canta-se imenso. Os doutores ficam a arrumar. Os caloiros vão dormir.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Sempre tudo cheio de risos, galhofa, sujidade do chão, coisas do género. À entrada para o "Tribunal", para o "Julgamento", mete-se uma venda no caloiro e canta-se "Morte ao caloiro, o caloiro vai morrer".

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Ora bem, a ideia é os caloiros irem todos em pânico para o julgamento verdadeiro e, depois, chegam lá, e aquilo é a maior galhofa da História. É a única praxe suja do ano, há um Tribunal, onde se acusa o caloiro com "crimes" escritos no "livro negro", e o caloiro se vai defendendo.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Não vale a pena estar a explicar o que acontece nesse julgamento (posso responder se alguém tiver interesse), os doutores juntavam-se todos e diziam que o julgamento tinha sido falso. Uma brincadeira! E que ia existir o verdadeiro na semana a seguir!

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

No final do ano, existiam dois julgamentos, para ver se o caloiro se tornava membro da tertúlia. Se tornava "Bastonário", "Tritão", "Ninfa", etc., etc. O primeiro julgamento, duríssimo, físico, etc., (a única praxe fodida do ano) tinha o plot twist de ser falso.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

De resto, as praxes de Direito, mormente as masculinas, costumavam ser duas por semana, por norma à noite, sendo que, em altura de exames, paravam. E eram praxes à base de galhofa, etc. Nada de praxes físicas, com duas excepções, uma em cada semestre (as chamadas "praxes psicológicas").

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Depois, gera uma dinâmica social na Faculdade, em que as pessoas se conhecem por "o Luís dos Bastonários", "a Inês da Guarda", "a Sofia das Ninfas", etc., etc., etc.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Portanto, fora da praxe, o gajo do terceiro ano é só o gajo do terceiro ano. Não é doutor, não dá ordens, nada de nada. Há uma relação perfeitamente banal e normal.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Depois, há uma regra, que todas as tertúlias seguem, de a praxe ser praxe e fora da hora da praxe não há cá hierarquias, doutores, etc., etc. Só se pode ser praxado se houver hora marcada e se se tiver a usar camisola de caloiro (é uma regra de cortesia até para com os cidadãos da cidade).

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Havendo muito por onde escolher, o caloiro pode optar por aquilo que acha ser o seu estilo. Eu, p. ex., fui para uma tertúlia onde não se era obrigado a beber, não existia praxe suja, etc., etc., embora isso seja o standard em Direito (nas masculinas; nas femininas há gente maluca).

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

E há uma regra de cortesia, velhinha, que diz que a primeira tertúlia a alcançar o caloiro deve, ainda assim, informar que existem várias e, depois, dar oportunidade ao caloiro de ele falar com outras tertúlias.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Logo à partida, isto gera uma dinâmica muito própria na altura das martículas. As tertúlias têm de fazer o chamado "cacique", i.e., convencer o caloiro a ir para a sua tertúlia.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Ora bem, a praxe funciona por tertúlias. Por sinal, sexistas. Existem tertúlias masculinas e femininas. Nos rapazes, existem os Bastonários, os Cobóis, os Tritões, os Capitães, os Capas & Copos, etc., etc., etc. Nas femininas, as Rosas, as Minervas, as Tricanas, as Ninfas, as Musas, etc., etc.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Vá, pronto, como eu sei que vocês devem estar aí a roer-se todos para saber como é a praxe de Direito em Coimbra, eu explico. Segue o fio.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Só posso falar de praxe com tempo para explicar o meu contexto. A praxe de Direito em Coimbra é, muito provavelmente, única no país. E gera um micro-clima muito próprio. Nunca teria participado em metade das praxes que vi, mesmo as de Coimbra. Quanto mais as de certos cursos de Porto/Lisboa.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

É provável que, noutra Universidade ou noutro curso, nunca tivesse ido à praxe. Ou, pelo menos, nunca a tivesse acabado. O micro-clima que é a praxe de Direito em Coimbra faz com que a minha visão da praxe seja completamente diversa da visão que eu tinha antes de entrar no ensino superior.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

A minha praxe favorita era a praxe dos talentos. Foi, aliás, nessa praxe que eu decidi que não ia abandonar a coisa e que ia seguir até ao fim. Foi dos últimos a "actuar" e disse que o meu talento era dar roast a doutores. Belos tempos. Tinha dezoito anos. Ganhei o concurso.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Há praxes académicas bem giras e bem parvas.

No meu tempo, mandavámos um caloiro à aula de Penal e dizíamos para ele fazer uma pergunta, por sinal uma pergunta sem nexo nenhum. Mandar uma professora para o caralhinho talvez seja ultrapassar a linha.

Óscar Rodrigues @oscar-rodrigues.bsky.social · 6h

Alerta: o vídeo que anda para aí a circular da aluna a mandar a prof. para o car#€&@* é falso. É uma praxe académica. Já apaguei.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Também estava bem fodido se o fizesse, que vocês às vezes vêm aos pares apitar o sininho do "saiu da linha".

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Por outro lado, nunca vou perceber a queixa do "mas então aqui são todos amigos?". Eu por norma não deixo de tratar bem e com respeito pessoas aleatórias que discordam de mim.

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Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 2h

Bibó Entre-Douro-e-Minho.

Luís @luismiguelcouto00.bsky.social · 7d

Acabei de ter uma grande discussão aqui no escritório, e estou absolutamente intrigado. Depois venho despejar a discussão aqui.

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